terça-feira, 1 de outubro de 2024

REVISITANDO OS CROSSOVERS MARVEL X DC - PARTE 1

 


Eu sou daquele tipo de leitor que não acha que editora de quadrinhos seja time de futebol. Traçando um paralelo com outras formas de arte – levando em conta que Histórias em Quadrinhos seja a 9a delas – não me lembro de fãs de literatura torcendo para uma editora, fãs de cinema torcendo para um estúdio (até o dia em que – olha a coincidência! – eles passaram a adaptar HQs), nem por escolas de dança, arquitetura ou poesia. Claro que todos temos nossas preferências pessoais, mas nunca vi torcida contra, boicote, boatos e até mesmo difamação, por mais ridículo que possa parecer.

O que ainda me deixa mais surpreso com isso tudo é que, diferente do esporte ou outros tipos de rivalidades, a sua preferência não precisa superar a de outros para se sobressair ou ganhar destaque. Seu quadrinho favorito não precisa vender mais que o favorito do colega para você se divertir com ele. Gibis historicamente relevantes, hoje considerados clássicos, podem não ter entrado no Top 10 do ranking da época. Fãs de outras mídias sabem disso muito bem. Os de quadrinhos parecem esquecer.
Infelizmente esse sentimento não está mais restrito a alguns fãs, mas aos editores também. A política do “dividir para conquistar” parece ser garantia de sucesso, em vários setores do nosso coitidiano. Mas nem sempre foi assim. Ainda acredito que “a união faz a força” é um chavão mais coerente, simpático e, focando na nossa área aqui, bem mais divertido.
Houve um tempo em que Marvel e DC ofereciam o que os leitores queriam. E os leitores de então queriam união. Queriam ver seus personagens favoritos juntos. Juntos como se sempre tivessem estado, sem necessidade de portais, terras alternativas, explicações mirabolantes, para poder vibrar durante os 15 minutinhos que levam para ler seus gibis. E foi assim que a primeira fornada de encontros entre Marvel e DC apareceu. Supreendendo, marcando época e, principalmente, divertindo a garotada. Sem culpa.
Lançado nos EUA em 1976, Superman vs. Homem-Aranha chegou aqui pela EBAL, logo no ano seguinte, em formato gigante e prometendo o combate do século. Mero chamariz, a desavença entre os principais personagens das principais editoras de quadrinhos americanos durou pouco mais que 10 páginas da edição. Um soco pra lá, outro pra cá, um papo rápido e partiram no encalço de seus inimigos, também unidos, Lex Luthor e Doutor Octopus. Em meio a isso tudo, Lois (naquele tempo, “Míriam” aqui no Brasil) Lane e Mary Jane Watson papeiam, os jornalistas do Planeta Diário e do Clarim se conhecem, as origens de cada um são relembradas, como se fosse mais um dia na série regular de cada um. Ainda mais porque os autores e artistas envolvidos eram os mesmos delas, reforçando ainda mais a sensação de familiaridade da história.
Cinco anos depois, em 1981, Marvel e DC resolveram brincar de novo. Mas ao invés de uma edição especial em comum, cada uma ficou responsável por editar e publicar um novo encontro entre seus personagens. Assim, a DC lançou Hulk vs. Batman e a Marvel decidiu pelo segundo encontro entre Superman e Homem-Aranha (com participações especiais de Hulk e Mulher-Maravilha). As duas edições vieram pra cá logo em 1982, por EBAL e RGE, respectivamente. No mesmo ano, só que lá nos EUA, foi lançado o último encontro dessa iniciativa, justamente com os títulos de maior sucesso naquele momento, X-Men versus Novos Titãs (contra a improvável dupla Fênix Negra e Darkseid, com o Exterminador de lambuja). Essa só chegou por aqui em 1985, já pela Abril em Grandes Heróis Marvel #9. Ficou a cargo da Abril também relançar as duas ediçõoes de Superman versus Aranha, em 1986 e 1989; e todos os quatro encontros, pela última vez, ao longo de 1993.
E ficamos nessas quatro edições por um longo tempo. Diferenças criativas barraram o lançamento de Vingadores vs. Liga da Justiça, que já tinha várias páginas prontas, marcado para 1983. Foram necessárias duas décadas para que o encontro finalmente aparecesse, já quase que totalmente remodelado. Mas antes disso uma nova leva de encontros Marvel/DC chegou aos fãs, numa época em que a simplicidade criativa não andava lá muito em alta, mas ainda apresentando momentos divertidos e situações inesperadas. Falarei deles na próxima semana.

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